Boa notícia
A esperança guardada em 5 ml de sangue
Ao se tornar doador voluntário de medula óssea, o cidadão pode representar vida nova a um dos 850 pacientes que aguardam o transplante no Brasil e não encontraram compatibilidade dentro da família
Paulo Rossi -
Uma média de 850 pessoas aguarda por doador - não aparentado - para poder realizar o transplante de medula óssea no Brasil. Só no Rio Grande do Sul, hoje, são 51 pacientes. Uma angústia sem data certa para chegar ao fim. As chances de conseguir um doador compatível é de uma em cem mil. Em Pelotas, família do estudante Pedro Tust Oliveira, 12, tem razões de sobra para festejar. Em 10 de abril, um telefonema não anunciava apenas a notícia pintada com as cores de felicidade plena. O improvável aconteceria: Pedro tinha dois doadores à disposição. Um feito tão fantástico que permitiu à equipe médica escolher entre os dois; o eleito - um jovem de 22 anos - tem, inclusive, o mesmo tipo sanguíneo do pelotense: O+.
A data do transplante ainda não está definida, mas a expectativa é de que ocorra até o dia 12 de junho, na Santa Casa de Belo Horizonte, Minas Gerais; a instituição com leito disponível para agilizar o procedimento que se transformará na vitória contra a Leucemia Mieloide Aguda (LMA). "Esse doador é que vai dar a vida pra ele. Vamos ser pra sempre gratos", resume a mãe, Maria Luísa Tust, 32. E faz um apelo para que outras pessoas se engajem à causa e façam crescer o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Hoje já são mais de 4,3 milhões de cadastrados no país, número insuficiente para eliminar esperas e sofrimentos.
Da avalanche à alegria
Foi tudo muito rápido. E assustador. O guri disposto, atleta do futsal e da natação do Cube Brilhante, de repente começou a queixar-se de cansaço. De desânimo. Era final de novembro de 2016. Uma consulta à pediatra e mais de uma coleta de sangue - para checar os resultados - acabaram por apontar ao diagnóstico de leucemia. Era preciso correr, não só em busca de internação no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, onde tem permanecido nos últimos meses.
Sessões de quimioterapia, a confirmação de que o transplante seria o caminho, exames para verificar os níveis de compatibilidade dos três irmãos e uma enorme aflição para derrubar. "O Pedro é que tem nos dado força. Ele focou na cura e nunca ficou revoltado", orgulha-se a mãe. A tranquilidade e o otimismo se transformaram em exemplo aos profissionais que respondem pelo tratamento e o estudante virou um dos xodós da equipe: "A psicóloga, às vezes, vai até lá pra ter uma consulta com ele", descontrai o pai, Tiago Tessmann Oliveira, 35. Todos certos de que o momento é de aprendizado e de fortalecimento de laços.
Novo sonho
O estudante do 6º Ano da Escola Municipal Afonso Vizeu mantém os estudos; ainda que a distância. Os sonhos para o futuro, entretanto, sofreram mudanças desde a descoberta da doença. É o que Pedro Tust Oliveira conta em texto que irá compor a 4ª edição do projeto Metamorfose; um incentivo à escrita como ferramenta curativa que, desde 2013, já chegou a mais de 50 pacientes do Hospital da Criança Santo Antônio. Confira um dos trechos da redação:
"(...) Antes de conhecer isso tudo aqui no hospital, pensava em ser engenheiro, mas agora penso em ser um grande médico oncologista e ajudar muita gente.
Tenho vontade de descobrir ou ajudar na descoberta da cura do câncer, e inventar um comprimido para curar essa doença como se fosse uma gripe, comprar o remédio na farmácia e tomar em casa, para não ter que ficar no hospital que é muito chato.
Vou ficar bom logo pra voltar para casa com minha família que tanto amo!"
E a torcida e a fila do abraço serão grandes, a começar pelos irmãos Henrique, de dez anos, e os gêmeos Ricardo e Fernando, de seis, e a avó Maria Inês, que ficará sob o comando do trio enquanto os pais e o primogênito estiverem em Belo Horizonte. Sem falar nos outros familiares, amigos, colegas de sala de aula e companheiros do Clube Brilhante e da invernada mirim do CTG Raízes do Sul.
Como ajudar
O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre todos os custos dos procedimentos e dos deslocamentos, tanto do doador quanto do receptor. As duas pessoas, entretanto, não precisam estar no mesmo local. O doador desloca-se a um Centro de Coleta de Medula mais próximo de sua cidade e o receptor dirige-se ao hospital de referência onde exista leito disponível. Após o transplante, o paciente precisa permanecer em monitoramento. É o que irá ocorrer com Pedro Tust Oliveira, que deverá ficar por volta de cem dias em Belo Horizonte acompanhado dos pais.
A família, portanto, precisará de suporte financeiro e conta com o apoio da comunidade, como já tem feito para a venda de rifas. A verba que, eventualmente, não for utilizada será encaminhada a outro paciente, possivelmente escolhido por meio de votação - adianta a mãe Maria Luísa. Confira os dados.
Banco: Caixa Econômica Federal
Agência: 0495
Nome: Pedro Tust Oliveira
Conta Poupança: 00311128-2
Operação: 013
CPF: 020.517.180-08
Atualização de dados
Os doadores voluntários de medula óssea devem manter os dados atualizados no sistema. É o grande apelo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), já que podem se passar anos, entre fazer parte do cadastro nacional e ser efetivamente chamado como um doador em potencial.
É o que acontece quando o Hemocentro Regional de Pelotas (Hemopel) é acionado pelo Redome para contatar o possível doador e realizar nova amostra de sangue para exames complementares, que irão verificar - com mais detalhes - o percentual de compatibilidade entre as duas partes. "É muito comum termos dificuldades de encontrar o doador. Temos recorrido, inclusive, às rede sociais para tentar encontrá-los", destaca a coordenadora do Setor de Captação, a assistente social Gisele Pinto.
Por convicção
Ser doador voluntário de medula óssea é algo sério. Portanto, é importante estar consciente: ao ingressar para o Registro Nacional, o cidadão irá permanecer no Redome até completar 60 anos de idade; ainda que possa desistir da doação quando abordado. "Por isso, é importante que o doador queira fazer parte do Registro e não se cadastre motivado a doar apenas para um paciente específico", afirma o Inca, através da assessoria de imprensa.
Vá até o Hemopel!
Endereço: avenida Bento Gonçalves, 4.569
Telefone: (53) 3222-3002
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